Você se lembra em quem votou nas últimas eleições para prefeito, governador ou presidente da República? Conhece os representantes atuais? Sabe quais os projetos eles realizaram durante o mandato?
Se você não conseguiu responder a nenhuma pergunta acima, pode ser porque talvez os políticos não estejam se comunicando muito com seu eleitorado. Com o avanço da tecnologia e popularização da internet, a comunicação política deixou de ser apenas distribuição de santinhos e comerciais na TV no período eleitoral e passou a ganhar um formato estratégico durante toda a vida pública dos representantes.
Importância dos meios de comunicação na política
Ao longo do século XX, o desenvolvimento dos meios de comunicação modificou todo o ambiente político. Logo no início do século, houve grande difusão de revistas, jornais, cartazes e do rádio, sendo um grande instrumento de comunicação de massa, seguido pelo cinema, que também se mostrou um importante meio para a propaganda.
Como exemplo, podemos citar Franklin Roosevelt, nos Estado Unidos, e Adolf Hitler, na Alemanha, que, cada um à sua maneira, se tornaram figuras representativas da política da era do rádio (assim como Hollywood e a UFA berlinense representaram duas formas diferentes de aproveitamento político do cinema). Aqui no Brasil, o rádio começou a ser utilizado com a finalidade política em 1930. O então candidato Júlio Prestes era sócio da Rádio Educadora Paulista, que fez sua campanha. Ele venceu as eleições, mas não chegou a tomar posse. Antes da transferência do cargo, Getúlio Vargas assumiu o comando depois de um golpe de Estado e, em 1932, determinou que todas as emissoras precisariam da autorização federal para entrar no ar. Mais tarde, em seu governo, criou a “Hora do Brasil”, programa que transmite as informações do governo federal à população. Durante o Estado Novo, Getúlio criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1939, órgão que censurou, normatizou, regulamentou e direcionou todas as informações que circulavam pelo país na época, inclusive nas emissoras de rádio.
Outro meio que se demonstrou dominante desde que surgiu foi a televisão. Ela uniu o sentimento de intimidade do rádio com o apelo imagético do cinema, revolucionando a percepção do mundo e aprofundando as transformações no discurso político. Para o cientista político Giovanni Sartori, a televisão inaugurou a era da videopolítica, ou seja, o homem da era da escrita, que se baseava sua visão de mundo naquilo que lia, estava sendo substituído pelo tempo do videopoder, por aquele que constrói sua visão a partir daquilo que vê na televisão. E, hoje, continuamos vivendo o poder da imagem.
Como fonte de informação e de entretenimento, a televisão se tornou um dos meios favoritos da população e reorganizou o ritmo da vida cotidiana. Através da tela, os candidatos puderam levar suas mensagens diretamente a milhões de pessoas sem necessidade de nenhuma estrutura partidária, rompendo ainda a segmentação de públicos, própria da mídia impressa. A TV permitiu que figuras de fora do “sistema” ganhassem relevância na mídia, até então controlada pela classe política tradicional. Assim, é possível entender fenômenos como Fernando Collor de Mello, no Brasil, e Silvio Berlusconi, na Itália, candidatos que obtiveram triunfos eleitorais ou ameaçaram partidos tradicionais. Além disso, no Brasil, também foram criadas a TV Senado (1996) e a TV Câmara (1998), oferecendo canais diretos com o cidadão sobre o que acontece no Legislativo brasileiro.
Entretanto, a partir dos anos 90 a internet modificou todo o mercado e ganhou status de nova mídia. As redes sociais e a comunicação digital foram impulsionadas a partir dos anos 2000. Só no Brasil, são mais de 100 milhões de usuários de redes sociais, seja Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram ou qualquer outra, isto é, praticamente metade da população está conectada à internet. O que exige que os políticos se adaptem aos novos tempos e cuidem ainda mais de sua comunicação.
Rainha pop
A rainha do Reino Unido Elizabeth II, falecida aos 96 anos, foi testemunha e protagonista de um mundo em constante transformação midiática. Tornou-se referência na moda, na cultura e, na era das redes sociais, virou até meme. Durante os 70 anos de reinado, foram usados todos os meios de comunicação para modernizar a imagem da família real e torná-la mais próxima do público. Foram feitas várias transmissões via rádio, vídeos se tornaram documentários e a televisão foi uma grande aliada para renovar a imagem pública dos Windsor. A cerimônia de coroação da rainha foi a primeira a ser transmitida na TV (somente no Reino Unido, 27 milhões de pessoas assistiram ao evento). Além disso, a monarca presenciou também a popularização da internet e dos smartphones, vendo, inclusive, vários capítulos da história de sua família sendo expostos, como separações e escândalos, com fortes críticas à monarquia. Entretanto, a imagem de Elizabeth II se tornou uma marca que movimenta bilhões de reais em todo o mundo, e a transformou num símbolo de previsibilidade e estabilidade da coroa britânica.
Donald Trump, Jair Bolsonaro e o “velhinho do TikTok”
No início de 2016, o empresário Donald Trump era tratado como um “fanfarrão” na luta pela presidência dos EUA, mas, no final do mesmo ano, ele foi eleito. Uma das justificativas foi o grande uso de Big Data. Além de ter forte presença nas redes sociais, Trump contratou a assessoria da empresa Cambridge Analytica, responsável por parte da campanha do Brexit, no Reino Unido. Com um modelo criado e uma quantidade massiva de dados, a empresa conseguiu orientar a campanha do político . A ideia era enviar mensagens direcionadas aos republicanos e indecisos pelo país, além de tentar diminuir a quantidade de votantes da adversária Hillary Clinton, desmotivando-os a votar (já que nos EUA a votação não é obrigatória). Na campanha de Trump, ainda houve denúncias de conspirações com o governo russo para hackeamento de dados dos democratas e disseminação de conteúdos falsos em redes sociais.
Já na Colômbia, Rodolfo Hernandez também chegou ao segundo turno nas eleições deste ano e quase foi eleito presidente do país. Ele não se importa com as comparações com Donald Trump, sendo chamado até de “Trump colombiano”, ou até mesmo com o presidente brasileiro populista e de extrema direita Jair Bolsonaro – eleito depois de intensa campanha nas redes, com o velho “falem bem ou falem mal, mas falem de mim” e denúncias de fake News. Com 77 anos, Hernandez é conhecido como “el viejito del TikTok” (o velhinho do TikTok), por sua presença ativa na rede social. Sua campanha presidencial evitou debates tradicionais de transmissão em TV e comícios políticos, concentrando-se na linguagem mais simples para falar aos eleitores por meio de seus smartphones. Ele carregava a média de um vídeo por dia, a maioria deles engraçada e alegre. Também alcançava centenas de milhares de pessoas no Instagram e nas suas transmissões ao vivo no Facebook. O “rei do TikTok” se demonstrou um vendedor experiente, que conquistou um bom número de colombianos para chegar à reta final do pleito, mas, com posições confusas e propensas a gafes, suas estratégias de branding e marketing deixaram a desejar, levando-o à derrota por seu adversário Gustavo Petro.
A revolução de conteúdo de Bernie Sanders
Nas eleições presidenciais americanas de 2016, quem surpreendeu foi Bernie Sanders, senador pelo estado de Vermont e filiado ao partido Democrata. Sanders tinha menos de 3% das intenções de voto nas primárias do partido, enfrentando a favorita Hillary Clinton. Sem apoio, a equipe do senador elaborou uma tática de arrecadação de fundos on-line, indo atrás de cada eleitor com mensagens personalizadas. Com a campanha, foram arrecadados incríveis 218 milhões de dólares com pequenos doadores. A questão da popularidade foi resolvida por meio da produção de conteúdo. A equipe gravou cerca de 550 vídeos com as propostas e projetos do candidato, gerando mais de 42 milhões de visualizações apenas no Facebook. Foi então que os seus 3% de votos se tornaram 43% e ele quase venceu as primárias para ser o candidato do partido.
É preciso fortalecer a comunicação e a identidade
Percebeu? A mídia se tornou, na sociedade contemporânea, o principal instrumento de engajamento, difusão das visões de mundo e de projetos políticos, possibilitando mais fontes de informação e conteúdo. Os meios de comunicação, principalmente os de massa, ampliam o acesso aos agentes políticos e a seus discursos, que ficam expostos, de forma permanente, aos olhos do grande público (apesar de que ainda existe uma grande parcela da população sem esse acesso).
Contudo, a evolução da internet e a popularidade dos smartphones também ampliaram a disseminação de informações falsas e manipulação de imagens, associadas a diversos grupos e seus interesses. Só que os discursos das variadas mídias não esgotam a pluralidade de vozes, perspectivas e interesses da sociedade.
Por isso, primeiramente, é importante que os políticos utilizem os meios de comunicação não apenas para as propagandas políticas no período de eleições, mas, principalmente, durante seu mandato para manter a transparência de seu governo, fortalecer sua identidade e construir sua marca para ganhar o interesse e a confiança do público. Com a comunicação é possível estreitar ainda mais a relação da sociedade com a política, privilegiando ainda mais a participação e a atuação popular, a representatividade e a democracia.
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